Tome Nota com Enio Alexandre
Brasília reinventa o Ano Novo a mais de 1.000 km do mar
No Brasil, o réveillon na praia é quase um ritual. Um hábito alimentado por décadas pela mídia, especialmente pela Globo, cuja influência era quase unânime antes da chegada da internet. A emissora, com suas novelas ambientadas em cenários cariocas de praias ensolaradas e juventude sem grandes preocupações – jovens com carros novos que raramente estudavam ou trabalhavam, empresários sempre retratados como vilões e a pobreza de forma cômica ou romanticamente atenuada – construiu um imaginário coletivo onde o litoral é o epicentro da felicidade.
Hoje, além da mídia tradicional, a internet perpetua essa ideia, mostrando réveillons cinematográficos, que parecem gritar: “Se não for na praia, não é réveillon”. Mas aqui em Santa Catarina, essa tradição traz desafios monumentais. A corrida para o litoral transforma rodovias como a BR-101 em verdadeiras provações de paciência. Congestionamentos intermináveis e praias tão lotadas quanto arquibancadas em finais de campeonato são cenários comuns.
E não são apenas os municípios litorâneos que sustentam essa cultura. Cidades sem praia contribuem para o êxodo. Com festas de fim de ano tímidas ou até inexistentes, como no no caso de Joinville, quem quer celebrar em grande estilo migra para as praias, sobrecarregando a infraestrutura costeira.
Mas será que essa tradição é sustentável? Será que não é hora de olharmos para novas formas de celebrar? Imagine valorizar os espaços urbanos, montanhas ou mesmo o campo, reinventando o réveillon com eventos locais criativos e acolhedores.
Enquanto seguimos fascinados pelo litoral, talvez estejamos perdendo a chance de encontrar beleza e significado em lugares menos óbvios. Repensar como celebramos o ano novo é, talvez, o primeiro passo para um futuro onde tradição e sustentabilidade possam coexistir. Afinal, a essência do réveillon não está no lugar, mas nas pessoas e nos momentos que compartilhamos.
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