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O consumo desenfreado e a internet

Foto do escritor: Dr. Raphael LopesDr. Raphael Lopes

Disrupção: Tudo com Raphael Rocha Lopes


♫ “Cause we are living in a material world/ And I am a material girl/ You know that we are living in a material world/ And I am a material girl”♫ (Material girl; Madonna)


Esta é uma era de consumo incessante. O desejo de comprar nunca foi tão instantâneo, acessível e estimulado. Se antes o consumo estava restrito a datas especiais, a passeios em shoppings e a publicidades televisivas, hoje ele está a um clique de distância. Ou, melhor dizendo, a uma rolagem infinita de distância.


A internet, especialmente as redes sociais, transformou a relação das pessoas com o consumo. O que antes era uma decisão pensada — e muitas vezes adiada por necessidade — agora se tornou impulso. O marketing digital e os algoritmos preditivos se tornaram mecanismos altamente eficientes de persuasão. Não se compra mais apenas o necessário, mas aquilo que parece que se quer.


O capitalismo digital encontrou o ambiente perfeito para crescer sem limites. Cada movimento na internet é rastreado e analisado, gerando recomendações personalizadas que cercam os usuários por todos os lados. Pesquisou um tênis? Em poucos minutos, anúncios do mesmo modelo (e de outros semelhantes) aparecerão no Instagram, no Facebook, no YouTube e até no site de notícias que você acessa. Isso não é coincidência — é engenharia de dados em forma refinada.


Impulsos


As redes sociais, por sua vez, criaram um fenômeno ainda mais poderoso: o consumo aspiracional. Antes, os desejos de compra eram impulsionados pela publicidade tradicional, com modelos e celebridades distantes da realidade do público. Hoje, qualquer pessoa pode ser uma vitrine ambulante. Influenciadores digitais exibem produtos de maneira sutil (ou nem tanto), recomendando roupas, gadgets, cosméticos e experiências que parecem indispensáveis. E, ao contrário dos comerciais de TV, essas recomendações vêm de pessoas que os fãs acompanham diariamente, que parecem próximas e confiáveis. O efeito é devastador para a racionalidade de consumo.


Mas a questão não é apenas sobre o quanto se compra. O problema maior é por que se compra. Muitas vezes, o consumo não vem de uma necessidade real, mas de um mecanismo psicológico de compensação. A lógica é simples: o bombardeio de imagens perfeitas na internet gera frustração e insegurança. Para aliviar essa sensação, busca-se a recompensa imediata de uma nova compra. O consumismo digital não é só um problema econômico. Virou um problema emocional.


Controle


Dá para quebrar esse ciclo? A resposta passa por consciência e controle. Algumas estratégias podem ajudar, como reconhecer os gatilhos (perceber quando o desejo de compra é legítimo e quando é apenas resultado de uma sugestão algorítmica), criar um tempo de espera (ao desejar algo, dar um prazo antes de efetivar a compra para avaliar se o impulso ainda faz sentido), reduzir a exposição a gatilhos de consumo (limitar o tempo nas redes sociais e evitar seguir perfis que estimulam o desejo compulsivo de comprar), reavaliar a relação com o dinheiro (entender que possuir mais coisas não significa ter mais felicidade ou sucesso).


O consumo sempre existirá – e isso, por si só, não é ruim – e a tecnologia continuará aprimorando suas estratégias para nos fazer comprar mais e mais rápido. Mas a transformação digital não pode ser uma via de mão única, onde apenas as empresas e plataformas ditam as regras. É necessário educar as gerações a aprender a navegar sem ser controladas por elas.


Se antes o consumo era uma escolha, hoje se tornou um reflexo condicionado. Cabe resgatar o controle sobre os desejos antes que eles deixem de ser realmente das pessoas.





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