Disrupção: Tudo com Raphael Rocha Lopes
“♫ Tão correto e tão bonito/ O infinito é realmente um dos deuses mais lindos/ Sei que às vezes uso palavras repetidas/ Mas quais são as palavras que nunca são ditas?” (Quase sem querer; Legião Urbana).
Já falei bastante, em textos, aulas e palestras, da geração 140 caracteres e da geração mimimi. A primeira, uma referência ao número de caracteres que inicialmente era o limite para escrever no Twitter (agora X). Sua característica principal: superficialidade. São rasos porque não se aprofundam em nada, não passam do título ou, quando muito, do primeiro parágrafo de uma matéria jornalística. Livros dão choque e argumentos vêm, normalmente, baseados no que recebem do WhatsApp ou do que viram em alguma rede social.
A segunda é aquela que não pode ser contrariada em nada. Fica emburrada ou passa a detratar o interlocutor em vez de discutir o mérito da divergência. É o “eu não gosto do que ele fala, mas como não tenho argumentos, vou atacá-lo pessoalmente”. Essas pessoas não têm argumentos como consequência da própria preguiça mental.
Infelizmente, constatei duas coisas: que, na realidade, é uma geração 140 caracteres mimimi (ou vice-versa), unificada; e que não dá mais para falar propriamente em “geração”, pois esses perfis são facilmente encontrados em pessoas de todas as idades!
A vida sem fim nas redes sociais
Agora vejo uma terceira onda, a da geração rolagem infinita. E vai estar perturbadoramente vinculada àquela mimimi 140 caracteres. Um aparente coquetel molotov de consequências atômicas.
Muito tem se discutido se as plataformas ou redes sociais com rolagem infinita – aquelas em que vai se deslizando sem nunca terminar o conteúdo – estão contribuindo para os vícios na internet, quais os impactos nas vidas profissionais e sociais das pessoas e qual o papel da dopamina nisso tudo.
Segundo seu criador, Aza Raskin, a intenção era melhorar a experiência do usuário. As Big Techs viram uma fábrica de fazer dinheiro. Claro, esse é apenas um dos expedientes utilizados para deixar as pessoas mais tempo dentro das plataformas. Quando o usuário se dá conta, já se passaram horas...
Os impactos
Transtornos de falta de atenção, ansiedade, solidão, depressão, impulsividade, letargia, muitas destas doenças ou aspectos estão sendo associadas ao excesso de tempo em frente às telas. Estudos estão demonstrando, inclusive, que está ficando mais difícil identificar alguns graus de autismo por conta da confusão com sintomas de pessoas que ficam, desde muito pequenas, tempo demais com celulares, computadores e TV. Especialistas, porém, alertam que é cedo demais para tirar conclusões definitivas.
É difícil negar, contudo, que, de fato e lamentavelmente, estamos contribuindo, como sociedade, para o crescimento da geração rolagem infinita, com crianças, adolescentes e jovens (e adultos, por que não?) com cérebros anestesiados, viciados (tecnicamente ou não, do ponto de vista da medicina) naqueles conteúdos superficiais, que nunca terminam, mas sempre reforçam suas crenças e vontades.
Nunca o trecho da música do Legião Urbana que destaquei lá no início (o infinito realmente é um dos deuses mais lindos) pareceu tão atual. Resta saber para quem, qual infinito, quão correto e quão bonito...
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