Disrupção: Tudo com Raphael Rocha Lopes
“♫ There are times when all the world's asleep/ The questions run too deep/ For such a simple man/ Won't you, please, please, tell me what we've learned?/ I know it sounds absurd/ Please tell me who I am” (The logical song, Supertramp)
Não é de hoje que recebo, eventualmente, via rede social ou aplicativo de mensagens, vídeos supostamente engraçados de crianças fazendo a lição de casa “assessoradas” por assistentes pessoais, especialmente a Alexa, a mais popular.
Para o leitor que não conhece, uma explicação de quem é, ou melhor, o que é a Alexa: uma assistente pessoal virtual da Amazon, cuja voz sai de um dispositivo eletrônico conectado à internet. Serve para obter informações gerais, lembretes, ligar ou desligar aparelhos eletrônicos ou luzes da casa, tudo por comando de voz. Existem similares de diversas outras marcas.
Feito o esclarecimento, voltemos ao ponto. Num dos vídeos o garoto passava sussurrando as contas matemática da tarefa da escola, e a Alexa respondia, também sussurrando, os resultados corretos. Não deixa de ser cômico, é verdade, mas a pergunta que fica é: e agora?
E agora, mudanças
Dei aula em faculdades de Direito por muitos anos. Aos poucos, começaram a surgir um notebook aqui, outro ali. Depois veio a conexão com a internet nesses computadores e a atenção dos alunos começou a desviar das aulas. Não adiantava pedir para fechar, porque a desculpa era sempre que o utilizavam fazendo as vezes de caderno. Depois vieram os celulares com internet.
Confesso que no começo me incomodou bastante, assim como à maioria dos professores. Com o tempo aprendi a lidar com a situação, e passei a utilizar os celulares dos alunos e a internet como parceiros e não inimigos. Para os jovens pode parecer que é coisa do século passado, mas foi praticamente ontem.
Antes falei da Alexa. Porém, hoje o que está tirando o sono de muitos professores e educadores é o tal do ChatGPT. Já falei dele aqui em outro texto. Na realidade, eu simplesmente fiz uma coluna inteira com um texto escrito por ele, apenas dando-lhe uma orientação do que eu queria. Simples, fácil, rápido. E se foi assim para mim, imagem como é para a molecada que praticamente nasceu com um celular na mão. Já há notícias de alunos utilizando o ChatGPT para fazer trabalhos complexos e de pessoas “escrevendo” livros com ele.
As mudanças chegam e é preciso entendê-las.
E quebrar paradigmas
Se tive que me habituar e competir com a internet nos celulares dos meus alunos – sem morrer de estresse – e aprender a transformá-la numa aliada, o mesmo deverá ocorrer com todas as tecnologias que chegam.
Os pais, os professores e principalmente as escolas deverão quebrar paradigmas, pois as Alexas e os ChatsGPTs são só o começo do que vem por aí. Os deveres escolares tradicionais para casa serão (já são) coisas do passado e acredito que as aulas invertidas, ou seja, aquelas em que os professores passam os materiais para os alunos estudarem em casa e depois discutir em sala de aula aumentarão.
Alternativas criativas – criativas suficientes para tirar os alunos do mundo da lua – deverão ser cada vez mais exploradas. É um desafio gigante para, repito, pais, professores e escolas, especialmente se considerarmos que estão chegando na idade escolar os filhos daqueles pais que infelizmente se acostumaram a não ler e basear suas opiniões em sites superficiais de qualquer coisa. Mas esse é um tema para uma próxima coluna...
De todo modo, as perguntas devem ser profundas...
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