Tome Nota com Enio Alexandre
Cenas de violência brutal em plena luz do dia no Centro de Joinville
Em menos de um ano dois crimes envolvendo pessoas em situação de rua em Joinville chamam atenção não apenas pela gravidade dos fatos, mas pelo local e contexto em que ocorreram. Na última quinta-feira (16), um morador de rua foi esfaqueado nas costas no Terminal Central da cidade, após uma confusão que, segundo testemunhas, envolveu incômodos causados por ele a outras pessoas. Em março de 2024, também na região central, outro morador de rua morreu após ser atacado com diversas facadas, desta vez por ciúmes de uma mulher. Ambos os casos ocorreram à luz do dia, em locais que deveriam oferecer segurança à população.
Nova Cracolândia
A situação é alarmante. A crescente população em situação de rua em Joinville tem sido pauta de denúncias de vereadores e de apelos de associações de moradores, como a do bairro Bucarein, onde funcionam um restaurante popular e um centro de apoio para essas pessoas. Apesar das solicitações, o poder público parece inerte. Enquanto nada é feito, o problema se agrava e cresce o risco de que em Joinville, a maior cidade de Santa Catarina, uma nova "cracolândia" seja formada. A violência entre pessoas em situação de rua não pode ser tratada como algo banal ou normal. São seres humanos que estão à mercê da exclusão social e da vulnerabilidade, mas há muitos criminosos entre eles. Cometem pequenos delitos mas também crimes graves. É urgente que o problema não seja empurrado para debaixo do tapete.
Serviços
A oferta de comida, abrigo e roupas limpas é essencial, mas, sem um trabalho mais profundo, muitas dessas pessoas acabam utilizando esses recursos apenas como meio de sobrevivência enquanto continuam a sustentar vícios em drogas ou álcool. Geralmente furtando ou vendendo produtos nos semáforos. A questão levanta outras dúvidas: será que repassar dinheiro público para ONGs que atendem essa população é suficiente? Essas organizações realmente trabalham para reduzir o problema ou acabam se beneficiando da sua existência? São perguntas que precisam ser feitas, assim como a implementação de um plano mais sério e abrangente. Não podemos ignorar que, embora os dois crimes tenham envolvido moradores de rua como vítimas, o contexto poderia ser diferente. E se, em vez de um morador de rua atacado, fosse um trabalhador ou um estudante agredido por uma dessas pessoas em situação de rua? Certamente haveria grande comoção. É um cenário que pode se tornar realidade se as cidades que são rota dessas populações vulneráveis – Joinville, Itajaí, Balneário Camboriú, Florianópolis, Blumenau e outras – não se unirem para enfrentar o problema.
Como resolver
A solução não está em apenas transferir o problema para outra cidade ou região. É necessário um trabalho coordenado e conjunto, com a participação de governos municipais e estadual, além da sociedade civil, para criar programas de assistência, reabilitação e reintegração social. O momento de agir é agora. Antes que a violência e o descaso se tornem irreversíveis, é essencial reconhecer que cada uma dessas pessoas carrega uma história que merece ser ouvida e atendida. Apenas com um trabalho sério e comprometido poderemos evitar que cenas de esfaqueamentos em pleno centro de Joinville sejam vistas como algo comum ou aceitável. A responsabilidade é de todos.
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